Reduzindo débitos técnicos: um checklist para a transformação digital

Renato Gregorio • July 2, 2024

Um débito técnico é um conceito familiar para muitos profissionais de desenvolvimento de software. Ele geralmente acontece quando existe uma urgência em concluir alguma demanda, levando a um desfecho confuso da situação. No mundo do desenvolvimento de software, isso é causado pelo acúmulo de pequenos reparos e atalhos tomados ao longo do tempo, dificultando entregas futuras.

Compreender o débito técnico é crucial para líderes de tecnologia, pois isso influencia diretamente em vários aspectos do desenvolvimento de software e manutenção de sistemas. Ao reconhecer o débito técnico, os gestores podem alocar recursos de modo mais eficiente para solucioná-la, mitigando o risco de problemas futuros. Esta prática dá suporte a decisões estratégicas que equilibram ganhos imediatos com suas consequências a longo prazo.


Débito técnico: Definição


O débito técnico é uma bagagem acumulada a partir da opção constante por soluções rápidas, que podem ser convenientes para o momento, mas que não são as melhores possíveis a longo prazo. Na prática, a soma dessas ações imediatistas pode frear o progresso e aumentar o custo dos projetos.

Tomar consciência do débito técnico é altamente recomendado para aumentar a produtividade. Isso acontece ao minimizar o retrabalho e focar na entrega efetiva de novas funcionalidades. Uma comunicação clara sobre débito técnico com os stakeholders garante o alinhamento de expectativas e promove a confiança no processo. Em geral, essa compreensão empodera os líderes de tecnologia para dirigir 
iniciativas bem-sucedidas e garantir a sustentabilidade dos sistemas de software de suas organizações.

Causas comuns

O débito técnico geralmente acontece quando os prazos são curtos, os recursos são escassos, os planejamentos falham, as requisições mudam o tempo todo ou quando decisões técnicas ruins são tomadas para dar conta dos problemas no calor do momento.

O débito técnico se manifesta de várias formas no desenvolvimento de software. Isso pode partir de implantações difíceis de manter, assim como de documentações inadequadas que tornam a obscura a operação dos sistemas. Bugs não resolvidos, particularmente aqueles que não são tratados por sua causa raiz, contribuem para o débito técnico. Insistir em bibliotecas obsoletas, apesar das recomendações contrárias, também traz problemas. Negligenciar vulnerabilidades de segurança em bibliotecas externas agrava ainda mais o problema, acentuando a importância das estratégias proativas de gerenciamento do débito técnico. 


Riscos do débito técnico para os negócios: exemplos reais


O débito técnico não é um problema somente para os desenvolvedores; ela afeta todo o negócio. Isso pode aumentar os custos de manutenção, tornar o progresso mais lento, ferir a qualidade do produto, e até mesmo afastar clientes. Há exemplos da vida real que ilustram muito bem as consequências destrutivas de negligenciar o problema.


Um deles aconteceu com a aeronave Boeing 737 MAX, que teve umo débito técnico severa no seu software MCAS. O sistema, que deveria ser à prova de preocupações sobre a sua estabilidade, sofreu com testes e documentações insuficientes, levando a dois acidentes e à aposentadoria compulsória do modelo. A reputação da Boeing foi duramente abalada e 346 vidas humanas foram perdidas tragicamente por conta das falhas técnicas. 


Em situação similar, o Adobe Flash também encontrou desafios e sucumbiu a vulnerabilidades de segurança e problemas de performance. Com o advento do HTML5 e padrões web mais modernos, o Flash perdeu relevância, levando a Adobe a anunciar o fim da vida útil dele no final de 2020.


A companhia financeira Knight Capital Group teve uma perda catastrófica de US$ 440 milhões em menos de uma hora devido a uma falha de software derivada de umo débito técnico não resolvida em um algoritmo de trading de alta frequência. O software desatualizado levou a milhares de transações não autorizadas e perdas financeiras significativas.


A Equifax, um dos maiores bureaus de crédito do mundo, foi vítima de uma violação massiva de dados em 2017, expondo as informações pessoais de 147 milhões de pessoas. As investigações revelaram que o vazamento ocorreu devido o débito técnico, mais especificamente por conta de uma falha ao aplicar patches de segurança a um servidor web vulnerável. Isso permitiu que os hackers explorassem uma vulnerabilidade já conhecida e acessassem os sistemas da Equifax, deixando consequências profundas.


Estes exemplos sublinham a enorme importância de conhecer e lidar com o débito técnico com prontidão e abrangência. Desse modo, quais medidas podemos tomar coletivamente para mitigar os riscos associados o débito técnico? Aqui vai um checklist com algumas dicas. 


Checklist: 8 passos para prevenir o débito técnico


Prevenir o débito técnico significa agir proativamente, em conformidade com as melhores práticas. Seguindo estes 8 passos, você poderá estabelecer uma fundação sólida para a segurança e a estabilidade da sua empresa:

  1. Revisão de códigos: Boas revisões de códigos ajudam a identificar potenciais problemas antes deles acontecerem, promovendo sua qualidade e consistência. Seguir a Maslow Piramide For Code Review pode ser uma boa maneira de fazer isso satisfatoriamente. 
  2. Testes automatizados: Implementar testes automatizados garante que mudanças e atualizações não introduzam regressões ou defeitos ao sistema. 
  3. Manter as bibliotecas atualizadas: Estar em dia com os stacks tecnológicos, frameworks e bibliotecas minimiza problemas de compatibilidade e vulnerabilidades de segurança associadas a componentes ultrapassados. 
  4. Monitoramento de vulnerabilidades de segurança: Utilizar ferramentas e processos para monitorar proativamente as vulnerabilidades de segurança é um processo importante para salvaguardar o software contra potenciais vazamentos e ações de hackers.
  5. Refatoração: A refatoração contínua do código aumenta a manutenibilidade, legibilidade e extensibilidade, reduzindo a probabilidade de acúmulo de débitos técnicos. 
  6. Plano de contingência para bugs: Alocar pessoas para resolver prontamente os bugs críticos previne que eles se convertam em uma bola de neve de débitos técnicos. 
  7. Entendimento do produto: É crucial educar stakeholders sobre débito técnico, inclusive os gerentes de produto e executivos da empresa. Eles precisam compreender as implicações disso para o desenvolvimento de produtos, sustentabilidade e sucesso a longo prazo. 
  8. Inclusão nos roadmaps de produtos: Integrar o gerenciamento do débito técnico aos roadmaps de produtos garante que a questão receberá a atenção merecida e pessoas trabalhando com isso em mente ao longo do desenvolvimento de funcionalidades. 

Como reduzir o débito técnico já existente


Solucionar o débito técnico já existente demanda um esforço concentrado e uma priorização cautelosa. Basicamente, temos dois conselhos para isso: 

  • Mantê-la como prioridade: Reconheça o débito técnico como uma preocupação crítica e dedique os recursos e o tempo necessário para enfrentá-la efetivamente. 
  • Alocar 10% do esforço em cada sprint: Integre as tarefas de redução do débito técnico aos ciclos de desenvolvimento, reservando uma porção do capacity de cada sprint para enfrentar gradualmente os problemas importantes.


Em conclusão, gerenciar o débito técnico não é meramente uma preocupação da área de tecnologia, mas um imperativo para os negócios. Entendendo a sua natureza, identificando suas causas e implementando medidas preventivas, as organizações podem mitigar efeitos adversos no desenvolvimento de produtos e assegurar o sucesso a longo prazo. Além disso, ao priorizar a redução da dívida existente e integrar o seu gerenciamento aos processos em andamento, os negócios podem fomentar uma cultura de melhorias contínuas e inovação. 


É importante frisar que o débito técnico não pode jamais ser eliminada de vez, já que ela é um processo natural do ciclo de desenvolvimento de software. O objetivo é gerenciá-la efetivamente para minimizar seus impactos negativos nos projetos e no negócio como um todo.



Quer saber mais sobre esse assunto e ver como a e-Core pode te apoiar nos seus desafios? Clique aqui para falar com os nossos especialistas.



e-Core

Combinamos experiência global com tecnologias emergentes para ajudar empresas como a sua a criar produtos digitais inovadores, modernizar plataformas de tecnologia e melhorar a eficiência nas operações digitais.


Isso pode te interessar:

IA aplicada a Estratégia Organizacional: casos práticos com Atlassian Intelligence, Rovo e Loom
Por e-Core 21 de agosto de 2025
Veja como aplicar AI na estratégia organizacional e transformar produtividade, visibilidade e colaboração em vantagem competitiva.
Guia de Recursos: Técnicas de Fine Tuning em GenAI
Por e-Core 11 de agosto de 2025
Por trás da popularização de GenAI e dos benefícios em eficiência e tomada de decisões, existe um grande trabalho ao identificar padrões em enormes volumes de dados, estabelecendo relações entre essas informações que precisa ser otimizada. Nesse e-book iremos conhecer melhor uma delas, o fine tunning.
Por e-Core 7 de agosto de 2025
Durante o processo de procura de novas oportunidades de emprego é comum surgirem algumas dúvidas com relação a candidatura, processo, como se comportar e etc. Nesse texto você vai encontrar algumas dicas que podem te ajudar em diversas situações. Primeiro passo: A procura! Durante a pesquisa por vagas, que fazem sentido para cada um, é comum levarmos em consideração coisas como nome da empresa, nível da vaga, benefícios e se de fato temos a compatibilidade técnica e comportamental exigida. Porém, é de extrema importância analisar o quanto de afinidade a empresa e a oportunidade tem com você, pessoa candidata. Além de colocar na balança as exigências e as oportunidades, e fatores como a distância, horários e modelo de trabalho, lembre-se de prestar atenção à estrutura, à cultura e ao negócio da empresa. Uma boa forma de fazer isso é conferindo os feedbacks das pessoas que trabalham ou trabalharam na empresa, tanto nas redes sociais quanto no Glassdoor, por exemplo, para que você possa compreender no detalhe como é a cultura daquela empresa de acordo com os seus valores. Isso aumenta sua assertividade na hora de avaliar a Oferta de Emprego, bem como traz um prognóstico mais fiel de como será sua adaptação no novo desafio. Segundo passo: Participando do processo. O Processo começou, e agora? Nesta etapa é extremamente importante esclarecer as dúvidas e perguntar. Calma! O nervosismo é normal, mas lembre-se que é extremamente importante organizar as ideias e perguntar. Por exemplo, aqui na e-core temos algumas etapas onde você poderá tirar dúvidas direcionadas em cada fase: Na etapa de RH : nessa fase você consegue tirar dúvidas sobre benefícios, estrutura da empresa, iniciativas de saúde e bem estar, dentre outros pontos, principalmente relacionados à cultura no geral. Na etapa técnica : Nesta etapa você tem contato com pessoas da sua área, então as perguntas podem ser aprofundadas – como é o dia a dia de trabalho com seu futuro time? Como é o contato com o cliente? Quais tecnologias são utilizadas? Você gosta de trabalhar na empresa – e por quê? Na etapa de liderança: você consegue não só tirar dúvidas sobre o time, mas sobre desafios futuros, expectativas para o cargo e desenvolvimento profissional. Durante o processo seletivo, o ideal é aproveitar ao máximo e ter em mente que estamos nos avaliando mutuamente, e por isso tanto a empresa quanto você deve perguntar e esclarecer dúvidas sobre o que for necessário. Afinal é como o início de um relacionamento. Uma experiência positiva, durante um processo seletivo, está sempre ligada à transparência e feedback, independente do resultado. Tome alguns cuidados ao trazer seus exemplos vividos, lembre-se que o tempo de uma entrevista apesar de parecer longo, é muito curto, mas ele é tudo que temos para nos conhecer e ter um overview geral das suas experiências, e é onde nós do RH podemos entender se faz ou não sentido avançar com você para as próximas etapas. Por isso, busque organizar suas ideias para trazer suas experiências, evite ser prolixo (nós sempre pediremos mais informações quando necessário então não precisa se preocupar em contar tudo de uma vez, pois vamos focar nos pontos que são importantes para a oportunidade em questão), e o importante é focar em suas experiências, nos seus objetivos, metas e vulnerabilidades (afinal, todos temos!). Terceiro passo: Recebendo feedback do processo. Feedbacks nem sempre são fáceis, podem nos trazer um sentimento de medo antes mesmo de sabermos qual o assunto, mas respire, lembre-se que todo feedback nos traz um crescimento. Essa é uma etapa muito importante, pois estar com a mente aberta para feedbacks vai ajudar no seu desenvolvimento pessoal e profissional e vai deixar você, pessoa candidata, cada vez mais preparada. Todo feedback abre um espaço para pedir dicas de como se preparar, de como aprender mais, de como crescer! Pedir feedbacks não é problema, seu desenvolvimento é exclusivamente seu, por isso, esse comportamento é extremamente valorizado e vai te ajudar a criar redes de networking além de impulsionar seu desenvolvimento. Boa sorte na sua jornada! Bom, agora que já falamos sobre algumas dicas rápidas, lembre-se que você é o protagonista da sua carreira. Por isso, é importante analisar com cuidado e atenção os passos que você escolhe dar nesse trajeto. Busque conhecimento e não tenha medo de pedir feedbacks, assim, você estará cada vez mais perto de conquistar a oportunidade ideal e de crescer profissionalmente. Boa sorte na sua jornada!